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15 03 pep noticia proftharcisioA corrida desesperada aos supermercados por parte dos consumidores passou, os produtos continuam chegando às prateleiras e o período de compras motivadas por pânico parece ter ficado para trás. Do lado das indústrias, muitas fábricas pararam ou trabalham em turno reduzido, e também há aquelas que adaptaram suas linhas de produção. Fábricas de calçados viraram fábricas de máscaras e motivaram contratações; plantas do setor automobilístico passaram a fabricar respiradores, e a indústria de cosméticos virou produtora de álcool em gel. Com menos pânico e a indústria conseguindo se reinventar em alguns casos, os desafios de gerenciar produção, estoque e distribuição em um cenário de pandemia e crise financeira, contudo, permanecem.

“De forma geral, o desafio é que as empresas se mantenham em operação em um contexto de pandemia, considerando as restrições de deslocamentos e necessidade de distanciamento social, e de consequente crise econômica. Com isso, o principal impacto é a ruptura de fornecimento em elos da cadeia de suprimentos, por exemplo, com o fornecedor ou a transportadora”, avalia a professora do departamento de Engenharia Industrial da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Adriana Leiras.

Para o professor Tharcisio Cotta Fontainha, do Programa de Engenharia de Produção do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), o abastecimento de mercados e supermercados, que oferecem alimentos e itens de primeira necessidade, foi o menos afetado pela chegada do novo coronavírus ao País. “O setor de alimentação e de itens considerados básicos sofreram menos impactos no alcance do consumidor, se comparados a outros setores. Todavia, todos os setores estão enfrentando desafios no gerenciamento de estoque ao longo dos elos da cadeia de suprimento. Apesar disso, a produção tem se readequado para atender à nova demanda, como a de álcool em gel e outros equipamentos de proteção individual”.

Ambos os pesquisadores integram o laboratório Humanitarian Assistance and Needs for Disasters (Hands), grupo de pesquisa fundado e coordenado por Leiras, que trabalha com gestão e modelagens de processos para auxiliar no planejamento de estratégias em situações de desastres. O laboratório fica sediado no Departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio. Quando perguntados sobre as necessidades de readequação de produção por parte da indústria e do empresariado, Leiras e Fontainha concordam que o planejamento de estoque é o departamento que merece atenção especial. Eles ressaltam que, com a diversidade de porte e áreas de atuação das empresas, não é possível pensar em modelos únicos, mas este é um momento de readequação de produção. “Ainda que não possamos falar em modelos únicos a serem adotados, esse é certamente o momento em que as empresas precisam repensar sobre seu cálculo de estoque. Mesmo com o aumento de integração de informações nas cadeias de suprimento, muitas empresas subestimaram bastante a possibilidade de desastres dentro de uma estratégia de redução de custos com a redução de estoques”, diz Fontainha.

A questão da distribuição por parte, especialmente, dos produtores rurais, também é sublinhada por Adriana Leiras. A questão de escoamento da produção é um dos gargalos enfrentados não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, que estão com dificuldades para distribuir a produção de leite. Outro gargalo está no empacotamento, que, de acordo com a pesquisadora, deve ser assumido pelos pequenos produtores, caso essa operação não esteja a cargo de uma grande empresa compradora. Para cadeias globais mais complexas, o planejamento exigirá incluir mais variáveis. “Nas cadeias globais de suprimentos, como no setor automobilístico, há a necessidade de se ter um plano de contingência e identificar dentro dessas cadeias os fornecedores críticos e quais são as soluções para lidar com esses fornecedores em caso de crises como a que estamos vivenciando. E até mesmo pensar em uma reestruturação de cadeia”, comenta Leiras, que entre os financiamentos obtidos para levar adiante a pesquisa contou com o apoio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ.

Contemplados em dois editais recentes da FAPERJ, de Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro, por meio de proposta submetida à Fundação em nome de Leiras, e Auxílio ao Pesquisador Recém-contratado (ARC), este em nome de Fontainha, os projetos visam à expansão do Hands. A rede já inclui o Instituto Militar de Engenharia (IME) e, mais recentemente, passou a contar também com Universidade das Forças Armadas (Unifa). Além do trabalho de pesquisa com as Forças Armadas, o grupo também desenvolve trabalhos em parceria com a Defesa Civil, no Estado do Rio de Janeiro. Assim como no âmbito estadual, a partir de um projeto aprovado em edital da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), eles realizam o mapeamento das redes que agrupam as diversas unidades da Defesa Civil e das Forças Armadas em âmbito nacional, a fim de entender como se formam e atuam em situações de desastre para desenvolver modelos para planejamento da logística. Dentro do trabalho com a Defesa Civil do Estado, o grupo contribuiu na confecção do Manual de Higienização de Cargas.

Dentro do trabalho desenvolvido pelo Hands também está o gerenciamento de doações e o laboratório está produzindo relatórios sobre entregas em 150 comunidades do Estado do Rio de Janeiro para três Organizações Não Governamentais. Em um quadro de tantos necessitados, um primeiro item levado em consideração é a diminuição do valor arrecadado, mesmo com fundos internacionais, que passam a ajudar seus países de origem. Outro ponto é a necessidade de transparência das ações realizadas para que as doações se mantenham.

A pesquisa também estuda a melhor maneira da entrega dessas doações, uma vez que precisamos evitar deslocamentos e contatos. “Agora, estamos avaliando se a entrega de um cartão para que a pessoa possa realizar suas próprias compras não seria mais adequado do que enviar as cestas básicas prontas diante da dificuldade de higienização. Outro ponto levado em conta é onde o beneficiário fará suas compras, se tem acesso a um mercado local ou terá que realizar um deslocamento maior”, explica a pesquisadora da PUC-Rio.

Fonte: FAPERJ

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